domingo, dezembro 11, 2005

Irritante solicitude

Ser surpreendido pela notícia de que acabou de ganhar alguma coisa sem fazer esforço nenhum para isso apetece a qualquer um, certo? Errado! Pelo menos quando a situação em questão envolve uma chamada telefônica com uma pessoa transbordando simpatia, o que deveria ser um momento de felicidade se transforma num grande tormento. Prática tão agradável quanto uma unha encravada, o telemarketing é um verdadeiro teste de paciência que ganha um séqüito de praticantes na mesma proporção que conquista a antipatia de quem recebe as irritantes ligações. Afinal, quem é que sente prazer em ouvir um enorme texto declamado roboticamente sobre as inúmeras vantagens supostamente oferecidas pelo serviço, sem ao menos ser perguntado se o mesmo é do seu interesse? Como se não bastasse, a recusa piora as coisas, pois desencadeia uma desesperada tentativa de adesão, que vem acompanhada de mais vantagens irrecusáveis. Apesar de abominar tal prática, é preciso dizer que não tenho nada contra os atendentes, pois sei que não lhes é dada outra opção além de insistir até o fim e ser o mais solícito possível, enquanto fala metodicamente como o computador vilão de 2001 – Uma Odisséia No Espaço. Na verdade, a irritação às vezes dá lugar à pena, afinal, as únicas opções válidas nessas situações são fazê-los perder vários minutos até o texto chegar ao fim, antes de dizer que não há interesse, ou abandonar a educação e partir para a grosseria. Particularmente, prefiro a segunda opção, pois além de poupar meu tempo e o do atendente, sempre é possível criar novas maneiras de fazer isso. É triste, mas não tem outro jeito. Vou continuar agindo assim, a menos que um dia eu receba uma ligação dizendo que ganhei na loteria. Quando acontecer, meu solícito atendente pode ter certeza que vai contar com a minha total atenção.

terça-feira, novembro 01, 2005

Nota de repúdio ao caos

Quando eu tinha dez anos, estava passando um sábado ótimo na piscina de um clube perto de casa, até minha mãe ligar para mim e, sem dar qualquer explicação, dizer para eu voltar para casa imediatamente. Fiquei chateado por ter que abandonar a diversão, mas obedeci. Quando cheguei, perguntei o que havia acontecido, e fiquei chocado quando ela respondeu que eu fechasse a porta do meu guarda-roupa e poderia voltar para o clube. Como a vítima de um seqüestro que defende seu algoz, hoje eu agradeço pela atitude da minha genitora. Entre ser um psicopata dono de museu (como sou chamado por alguns amigos), e um bagunceiro que é capaz de perder as chaves no próprio bolso, fico com a primeira opção. Desorganização é uma prática com a qual não sou nem um pouco conivente, mas sou obrigado a ver dentro de casa há um bom tempo. Eu moro com a rainha do caos (é, Miuí, vou falar de você de novo...), que diz ter melhorado bastante de uns meses pra cá. Eu até concordo que o quarto dela está relativamente transitável, mas para mensurar esse tipo de coisa, uso como referência o tanto de objetos dela que volta e meia “desaparecem”. Há sempre algum sumiço no calhamaço de contas espalhado na mesa dela e nos objetos pessoais distribuídos por toda a casa, entre outros. Não consigo entender qual é a dificuldade em ter um lugar certo para guardar coisas e arrumar o que acabou de ser usado. Não fazer isso só causa problemas, como atrasos por não encontrar o que procura na hora de sair (isso geralmente vem acompanhado de um extenso vocabulário de palavrões) e o gasto de várias horas em freqüentes arrumações que são obrigatórias quando a bagunça se torna insuportável. E ainda me chamam de psicopata...

terça-feira, outubro 11, 2005

Comendo o pão que os astros amassaram

Inferno astral. Um período perto do aniversário das pessoas, conhecido por provocar situações desagradáveis para quem apaga as velinhas. Alguns dizem que o inferno astral acontece quinze dias antes e quinze dias depois do aniversário. Outros consideram uma contagem nada animadora de dois meses de má sorte por ano. Seja como for, estou experimentando esse delicioso período de diversas formas, notadamente pelas constantes alterações de humor que tenho sofrido. Até pararia para contar o tempo do meu sofrimento e responder a dúvida supracitada, mas estou irritado demais para fazê-lo. Eu acho interessante essa coisa de astrologia. Adoro as nuances da minha personalidade escorpionina e a careta de desconfiança que grande parte das pessoas fazem quando digo meu signo. Apesar disso, não sou nenhum estudioso do assunto. Meu conhecimento é pouco e estou longe de poder e querer fazer um mapa astral. Mas se há algo irresistível é fazer comentários maliciosos sobre certos signos. Minhas vítimas mais freqüentes são os leoninos e taurinos. Respectivamente irritantes e histéricos (estereotipadamente falando), eles são meus objetos de estudo predileto. Como não deixar de reparar nas inumeráveis crises de ciúmes dos taurinos ou no auto-endeusamento dos leoninos? Estes últimos, por sinal, têm características em comum bastante incomuns, como a estranha mania de usar o mouse clicando bem mais que o necessário. Porém, se engana quem acha que eu repilo essas raças. Pelo contrário, minha irmã (que eu adoro) e alguns dos meus melhores amigos são desses signos. Falo isso baseado em anos de convivência alternando amor e ódio. Finalizando, só queria comentar que nem tudo referente aos signos faz sentido para mim. Afinal, não há nada mais frustrante que consultar horóscopos fajutos e ficar com cara de “hein?” ao ler algo do tipo “invista em finanças hoje, pois Júpiter e a Lua estão com você”.

terça-feira, setembro 20, 2005

Conceitos...

Existem características típicas do ser humano que fascinam estudiosos e leigos. Talvez a mais citada seja a capacidade de ter idéias, opiniões e gostos diferentes, a variedade de conceitos que desenvolvemos. Concordo, plenamente, mas em certos momentos essa também é nossa característica mais irritante. Quem nunca teve vontade de estrangular alguém que discorda veementemente do que acreditamos? O ditado diz que não se discute religião, política e futebol. Falando por mim, estou cansado de presenciar minha família bater boca sobre Deus, amigos se digladiarem em defesa de seus partidos e rivais se matarem durante jogos. Até aí tudo bem, pois assim como a diversidade, a teimosia é uma característica reinante no homo sapiens. Mas o que dizer de pessoas que têm conceitos claramente deturpados? Antes que me digam para não julgar as idéias alheias, aviso logo que não aceito a opinião de alguém que bate o pé para dizer que estabelecimento não é uma palavra comum. Sim, estou falando de alguém em particular. Mais especificamente do professor que, enquanto escrevo, está dando aula, insistindo em explicar para uma turma de futuros jornalistas a um ano da formatura a diferença entre negrito e itálico. Das duas uma: ou ele acredita que está lidando com uma turma de beócios, ou que foi contratado para dar aulas de informática para iniciantes. Como se não bastasse, nosso pernóstico mestre é do tipo que sequer ouve opiniões diferentes da dele, o que significa que vou ter que fazê-lo acreditar que concordo com seus conceitos desvairados acerca da produção de reportagens para passar. Sinceramente, não estou nem um pouco interessado em aprender o que ele quer ensinar. Se isso fizer de mim um profissional menos qualificado, que seja, mas definitivamente não confio no conceito de profissionalismo de uma universidade que contrata alguém como meu sábio professor.

quarta-feira, setembro 07, 2005

Sobre Diegos e Diogos

Existem pessoas que não gostam do seu nome por ser muito comum e lamentam não poderem assinar de forma mais estilosa. O grupo oposto, por sua vez, venera sua graça, mas freqüentemente sofre por ter que soletrar quando precisa se identificar. Minha sina é fazer parte do meio termo, tendo um nome fácil de ser reconhecido, mas confundido amiúde. Não reclamo de forma alguma de me chamar Diego, mas cresci com um certo trauma por ter que corrigir um número significativo de gente que está certo que vou atender por Diogo. Não sou pretensioso a ponto de exigir que decorem meu nome assim que me conhecerem, mas imploro que, se o fizerem, tenham a bondade de decorar o nome certo, até porque não é difícil fazer uma associação. Os Diogos que me perdoem, mas o fato é que os Diegos levam vantagem nesse quesito, dado o número de homônimos famosos que nós temos, como São Diego, Diego de La Vega (o Zorro) e Diego Maradona. Aqui se faz necessário abrir um parêntesis. Façam a associação que acharem conveniente, mas nunca me chamem de nenhum desses personagens, principalmente o último citado. Alguns engraçadinhos acreditam realmente que eu aprecio ser comparado a um argentino (nacionalidade que não é a minha) jogador de futebol (esporte que não suporto) viciado em cocaína (substância que definitivamente não uso). Mas deixando isso de lado antes que eu seja taxado de “Diego, O Insuportável”, vou mudar de tópico e demonstrar solidariedade com minha irmã, que não só tem um nome incomum, mas também bastante confundido. O amor pelo seu querido Mirtza Muhlert se transforma em cólera toda vez que ela é chamada de Marisa Mulher ou Maritza Huhbert. Bem, poderia ser pior. Ela tem mais é que agradecer por Mirtza ser um nome russo, e não argentino...

sábado, agosto 27, 2005

Os donos do mundo

Quem nunca passou pela situação de estar numa fila e ser obrigado a engolir algum espertinho que chegou à enganosa conclusão de não ser um mortal qualquer e resolveu passar na frente? É uma pena constatar que nem todos estão dispostos a derrubar esses pretensos deuses de seus pedestais e cobrar sua vez, ou simplesmente a situação não permite, como filas no trânsito. Mas o fato é que esses donos do mundo estão espalhados por toda parte, cada um tendo plena certeza que pode sair destilando seu veneno. Outro dia fui com minha irmã numa loja ajudá-la a escolher uma camisola, quando recebemos a desagradável visita de um desses seres. Estava ao lado do provador, pacientemente (sério!) opinando sobre o que minha irmã vestia, quando ouço um “dá licença?” sem um grão de educação atrás de mim. Afastei e deixei a simpática senhora passar para o outro provador e ainda ouvi um “parece que não sabe que está numa loja feminina”. Quis rir da cara dela por sequer considerar a possibilidade de eu querer vê-la em trajes íntimos, mas resolvi devolver o afago, dizendo que não tinha visto na porta da loja a placa que proibisse minha entrada. Quem me conhece sabe bem o quanto eu fujo de brigas e discussões, mas se tem uma coisa que me tira do sério são esses mestres do universo. O melhor de tudo foi quando a vendedora, tão indignada quanto eu, apontou para algo ao meu lado. Agradeci com um sorriso, esperei a gentil dama sair do provador, passei por ela segurando uma peça de roupa bem à vista e desferi o golpe de misericórdia (misericórdia figurativamente falando, é claro): “Posso provar esse pijama masculino?”. Eu entrei no provador quase sob aplausos e ela saiu da loja quase engasgada com o próprio fel.

terça-feira, agosto 09, 2005

Em nome da simpatia

Não há nada como um bom evento social como casamentos ou formaturas para nos fazer fugir um pouco das badalações noturnas costumeiras. É lógico que nem sempre isso é uma coisa boa, tendo em vista que uma parcela das pessoas que vão para essas festas precisa colocar em prática todo o cinismo que aprendeu na vida, enquanto sorri o tempo inteiro e finge que acha divertido ser nada mais que uma platéia muda numa comemoração que não é sua. Devo dizer que, na maioria esmagadora das vezes, esse é o meu caso. Mas eventualmente, como na formatura de um amigo, que aconteceu no último fim de semana, eu acabo achando a festa incrivelmente divertida, mesmo que ela esteja recheada de aspectos que tanto abomino. Encabeçando a lista vem a convivência forçada com familiares que só encontramos nessas ocasiões, conhecidos de longe ou até mesmo desconhecidos que dividem a mesa conosco. Depois vem a falta de algo alcoólico interessante (whisky e vinho branco não se encaixam nessa categoria) para beber, a infeliz seleção de músicas que as orquestras quase sempre insistem em tocar e os sorrisos plásticos para fotos e filmagens, entre outras coisas. O que me faz achar uma festa assim legal é ter a companhia de alguém para conversar e rir bastante de tudo isso. Afinal, não há nada mais interessante do que observar e fazer comentários nada sutis sobre quem costuma passar a noite inteira vigiando o arranjo da mesa para, ao fim da festa, levá-lo para casa. Mas sempre há uma reviravolta para tudo na vida. Daqui a um ano e meio eu me formo, e então vai ser a minha vez de ficar do outro lado, promover uma festa e, infelizmente, fazer o desespero de outros como eu. Mal posso esperar para me tornar o carrasco.

segunda-feira, agosto 01, 2005

O ócio de cada dia

Essa vida de desempregado não está nada fácil. Depois de passar cerca de três anos trabalhando de segunda a sexta em horários desumanos (com vários domingos de labuta, diga-se de passagem), ficar sem ter o que fazer é um vazio enorme no que antes era uma cansativa, mas confortável rotina. Somando a isso as férias da faculdade o que se tem é um quadro de completo ócio nada criativo, mas que, confesso, está me fazendo dormir bem, como não dormia há um bom tempo. O tempo, por sinal, era algo que eu vivia reclamando que não tinha. Hoje é uma coisa tão banal que, em alguns dias, o que eu faço de mais produtivo é ler alguns capítulos de um livro. Estava conversando com minha irmã, e ela comentou que não há nada como um belo descanso quando se tem um dia-a-dia muito agitado. Certíssimo, eu respondi, mas a coisa se torna um pouco complicada se o período de descanso é indefinido. Já mandei currículo para um bocado de lugares, mas acho que não está funcionando. Talvez eu devesse parar de mandar em anexo bilhetes suplicantes com promessas de vassalagem. Mas tem uma coisa que está me fazendo ficar animado a respeito disso. Como ultimamente as coisas na minha vida vêm acontecendo sem meios termos, estou esperançoso de que a maré mude logo. Minhas aulas recomeçam nesta semana, e se tudo continuar acontecendo segundo as atuais regras, em breve eu estarei tão ocupado que vai ser difícil arranjar tempo até para ler aqueles dois capítulos diários de um livro qualquer. Por enquanto, só me resta tentar entender o que é que se passava na cabeça do infeliz que disse que tempo (algo que eu tenho de sobra) é dinheiro (algo que eu tenho uma vaga lembrança de como se parece).

quarta-feira, julho 27, 2005

"Sobe?"

Hoje aconteceu uma coisa comum, mas que não deixa de ser engraçada. Estava saindo de casa, e quando fui pegar o elevador, uma vizinha distraída que estava nele pensou que já tinha chegado ao térreo e fez menção de descer no meu andar, antes de constatar que não era o seu destino. Achei divertido, mas só para passar por situação semelhante quando estava voltando. Sabia que o elevador estava parando no meu andar, mas na hora que a porta abriu não reconheci imediatamente o corredor. Tinham uns homens fazendo algum serviço lá, e eles espalharam pelo pequeno espaço entre as portas dos apartamentos a porção de mata atlântica que meus vizinhos cultivam no que eles consideram um lindo jardim. Elevadores são locais onde esse tipo de situação acontece com freqüência, além de serem um ótimo espaço para fingirmos (com pouco sucesso, diga-se de passagem) educação. Há sempre um “bom dia” insosso ou uma conversa que interrompemos quando percebemos que não estamos sozinhos no pequeno cubículo. Por falar em estar sozinho, isso é outra coisa que merece um comentário. Em elevadores sem câmera, a imaginação rola solta para passar os poucos segundos da viagem, seguindo a criatividade de cada um: uma olhada sexy no espelho, um beijo no(a) namorado(a) ou a prática mais hedionda da era moderna, apertar todos os botões. Fico me perguntando se foi alguma dessas coisas que fez a vizinha citada acima se distrair. Mas dessas histórias de elevador, a clássica das clássicas é a daquelas pessoas que estão esperando o transporte no subsolo e que, ou por nervosismo claustrofóbico por estar prestes a entrar numa caixa de poucos metros quadrados, ou por falta de algo mais interessante para dizer, solta a pérola mais redundante do mundo quando a porta se abre: “Sobe?” Bem, se você conseguir descer...

terça-feira, julho 26, 2005

Blog, pra que isso?

Para começar, devo dizer que nunca fui muito com a cara dos blogs. Sempre pensei que se fosse para eu ter um diário virtual, certamente seria para pouquíssimas pessoas lerem, tendo acesso apenas a determinados trechos. Surge então a primeira pergunta: por que eu fiz um blog? A resposta é bastante simples. Na verdade eu não mudei de idéia, apenas não vou fazer o que condenei veementemente acima. Não pretendo escrever aqui toda e qualquer situação que acontece no meu dia-a-dia. Minha intenção é apenas colocar em palavras algumas idéias que surgem em determinados momentos e que quase sempre se perdem por falta de uma ação para registrá-las. Algumas com uma certa pitada de humor negro e sarcasmo, outras puramente reflexivas, e muitas delas provavelmente desinteressantes para o público em geral. Mas é lógico que não cabe a mim julgar isso. Num ditado carregado de pornografia que aprendi com minha avó, o gosto é comparável a um pequeno orifício monossilábico da nossa anatomia, ou seja, cada um tem o seu. Mas deixando o terceiro olho de lado, vou continuar com minha explicação. Depois de decidir fazer um blog, o passo seguinte foi arranjar uma situação ou motivo para começar o “querido diário”. Por várias vezes eu me empolguei com coisas que me aconteceram, pensando seriamente em dar início. Foi assim há três semanas, quando fui demitido (um começo pseudo-dramático); há duas semanas, quando fiz uma viagem ótima (um começo pseudo-divertido); e há uma semana, quando passei três dias mergulhado em filmes (um começo pseudo-interessante). O engraçado foi que depois de buscar incessantemente um motivo complexo, o que me fez tomar a iniciativa final e colocar minhas primeiras idéias em páginas virtuais foi justamente uma coisa bem simples com que qualquer pessoa se depara constantemente: um conselho. Certamente, um começo pseudo-criativo...