A vida em sociedade traz algumas obrigações diárias desnecessárias, mas que, de tão comuns, não chegam a nos incomodar. Ontem um amigo me chamou a atenção para uma delas quando estávamos numa boate. Um segundo amigo cruzou com um conhecido e terminamos sendo todos apresentados antes de cada um seguir o seu caminho. A boa educação diz que isso é necessário, mas no fundo, de que me interessa ser apresentado ao irmão do cunhado da namorada do amigo do colega de trabalho de um amigo meu, quando eu sequer vou me lembrar do rosto dele algumas horas depois se nos batermos na fila do caixa? Salvo raras exceções, esses conhecidos de ocasião não vão mudar em nada nossa vida, mas ainda assim proclamamos um entusiástico “prazer em conhecê-lo” ao mesmo tempo em que deletamos o nome do fulano do cérebro. Fazemos coisa parecida até mesmo com conhecidos, que dirá com desconhecidos. É só ver o exemplo do fingido interesse que temos na vida dos outros quando nos encontramos por acaso na rua. Você pode estar super atrasado para uma reunião importantíssima, mas ainda assim pergunta se está tudo bem. E mesmo que estejamos na maior fossa, precisando desabafar, respondemos um “tudo ótimo” com um luminoso sorriso estampado no rosto, pois está mais do que claro que a pergunta foi retórica. É triste, mas é verdade. Ironicamente, as regras sociais de boa convivência são uma maneira de mascarar o fato de que não somos seres tão sociáveis assim. Temos nossas relações sinceras com amigos e parentes, mas é necessário expandir isso, mesmo que de maneira falsa, para o restante da população mundial. Da minha parte, preferia não ter que agir dessa forma em nome da simpatia. O que não é grande coisa, afinal, quem se importa com o que eu penso?
sábado, julho 25, 2009
terça-feira, janeiro 20, 2009
Prostituição política
Esta época pós posse de prefeitos eleitos é um prato cheio para os que gostam de criticar e desmascarar os fanáticos políticos que passaram meses gritando a plenos pulmões as supostas qualidades de seus candidatos. Um curto período trabalhando num jornal de uma cidade do interior foi o suficiente para constatar que esse fanatismo se resume a nada mais que um belo “eu quero um emprego” vindo de pessoas que, enquanto houver esperança de angariar um cargo de confiança, vendem até a sua dignidade. Acompanhei o caso de dois desses fanáticos, que passaram toda a campanha, numa jornada diária e irritante, pintando seu candidato como a pessoa que representa a solução para todos os problemas da cidade, a pessoa perfeita, que finalmente foi mandada do Céu para dar um jeito na corrupta política brasileira. Após a posse, já vi os dois trocaram de posição e pensamento de um dia para o outro. Um porque ganhou um cargo de confiança e perdeu poucos dias depois. O outro, porque não ganhou o cargo de início, mas conseguiu logo depois. Ambos passaram de um extremo ao outro na opinião sobre o novo administrador, numa clara prova de que eles nada mais são do que um artigo de leilão. Ou, numa comparação melhor, um artigo de prostíbulo, pois os itens vendidos num leilão contam sempre com prestígio, diferente dos serviços descartáveis prestados pelas meretrizes. No meio disso tudo, duas pessoas terminam com um belo sorriso no rosto. A primeira é o novo prefeito, que conseguiu dar continuidade à velha prática de enganar, sem deixar de fora do pacote nem mesmo seus mais fiéis seguidores, mostrando que a política nacional continua a mesma de sempre. E a segunda sou eu, que não consigo conter o melhor pensamento do mundo em casos como esse: “Eu sabia!”
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