A vida em sociedade traz algumas obrigações diárias desnecessárias, mas que, de tão comuns, não chegam a nos incomodar. Ontem um amigo me chamou a atenção para uma delas quando estávamos numa boate. Um segundo amigo cruzou com um conhecido e terminamos sendo todos apresentados antes de cada um seguir o seu caminho. A boa educação diz que isso é necessário, mas no fundo, de que me interessa ser apresentado ao irmão do cunhado da namorada do amigo do colega de trabalho de um amigo meu, quando eu sequer vou me lembrar do rosto dele algumas horas depois se nos batermos na fila do caixa? Salvo raras exceções, esses conhecidos de ocasião não vão mudar em nada nossa vida, mas ainda assim proclamamos um entusiástico “prazer em conhecê-lo” ao mesmo tempo em que deletamos o nome do fulano do cérebro. Fazemos coisa parecida até mesmo com conhecidos, que dirá com desconhecidos. É só ver o exemplo do fingido interesse que temos na vida dos outros quando nos encontramos por acaso na rua. Você pode estar super atrasado para uma reunião importantíssima, mas ainda assim pergunta se está tudo bem. E mesmo que estejamos na maior fossa, precisando desabafar, respondemos um “tudo ótimo” com um luminoso sorriso estampado no rosto, pois está mais do que claro que a pergunta foi retórica. É triste, mas é verdade. Ironicamente, as regras sociais de boa convivência são uma maneira de mascarar o fato de que não somos seres tão sociáveis assim. Temos nossas relações sinceras com amigos e parentes, mas é necessário expandir isso, mesmo que de maneira falsa, para o restante da população mundial. Da minha parte, preferia não ter que agir dessa forma em nome da simpatia. O que não é grande coisa, afinal, quem se importa com o que eu penso?